<i>Os imprescindíveis…</i>

Ângelo Alves

«63 anos depois de Hiroshima e Nagasaki os tambores de guerra continuam a soar»

Assinala-se nos próximos dias 6 e 9 de Agosto a passagem de 63 anos sobre o criminoso bombardeamento atómico pela força aérea norte-americana das cidades de Hiroshima e Nagasaki. Relembrar o holocausto nuclear em cada ano que passa não é uma rotina ou tradição. É sobretudo um grito de alerta para que não se esqueça um dos mais hediondos crimes cometidos pelo imperialismo norte-americano.
Nunca é demais lembrar que tal crime não correspondeu a qualquer estratégia militar para a vitória dos aliados na II guerra mundial. A rendição da Alemanha Nazi estava já assinada e a derrota militar do Japão era já um dado adquirido. Por mais que o imperialismo tente na actualidade reescrever a História e branquear alguns dos seus maiores crimes, é impossível ocultar que a decisão do uso da arma nuclear contra civis pela primeira vez na história da Humanidade serviu essencialmente para os EUA afirmarem o seu poderio militar e capacidade destruidora e para sinalizar uma política de crescente confrontação com a União Soviética.

Relembrar Hiroshima e Nagasaki é alertar e relembrar que o imperialismo, acossado pelas suas próprias contradições, pelos seus limites históricos e pela resistência dos trabalhadores e dos povos, pode, se não for travado, não olhar a meios para atingir fins, e reagir violentamente. Recordar o crime nuclear é assim chamar a atenção para os perigos que hoje ameaçam os povos do mundo. Instabilidade, insegurança, militarismo e guerra são aspectos centrais da evolução da situação internacional. Os valores de gastos militares por parte das principais potências imperialistas atingem os maiores valores de sempre desde o fim da II Guerra Mundial e a esmagadora maioria das armas nucleares existentes no mundo, cerca de 26.000 segundo dados da ONU, com capacidade para destruir toda a Humanidade, estão maioritariamente concentradas num pequeno punhado de potências da NATO e seus aliados, responsáveis, directa ou indirectamente, pela quase totalidade dos conflitos militares da actualidade que continuam a levar a destruição e a morte a várias regiões do globo.

Sucedem-se as manobras e decisões que aprofundam o carácter militarista das relações internacionais. No próprio Japão, vítima primeira do crime nuclear, reescreve-se a história, ignora-se o sofrimento daqueles que ainda hoje são obrigados a conviver com os efeitos da radiação, revê-se a constituição, tradicionalmente pacifista, e avança-se na remilitarização e na consideração da hipótese, pela primeira vez na história do pós-guerra deste país, da sua participação em missões militares estrangeiras.
63 anos depois de Hiroshima e Nagasaki os tambores de guerra continuam a soar. As guerras, as ameaças e as ingerências multiplicam-se em vários pontos do globo. Avança-se com a instalação do chamado sistema anti-míssil na Europa, com o AFRICOM em África e com a reactivação da IV Esquadra norte-americana na América Latina. No Médio Oriente e Ásia Central paralelamente à subida de tom das ameaças ao Irão - numa hipócrita política de «pau e cenoura» em torno do dossier nuclear - a realidade demonstra como vazios e hipócritas foram os discursos sobre o chamado «processo de paz» na Palestina e como se ensaiam soluções militares tipo «keynesianas» no Iraque ao mesmo tempo que se prepara o terreno para intensificar a chacina no Afeganistão.
«O capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade». As palavras de Lenine continuam a ter uma actualidade gritante. Mas, como no seu tempo, hoje há também aqueles que não se rendem e que prosseguem a luta. Esses continuam a ser os «imprescindíveis» que Brecht tão bem soube evocar.


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